sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Nome próprio


Somos as histórias que contamos para nós mesmos...
O que acontece mesmo, pouco importa.
Importa o que fica. O que deixamos que fique. O que...
Inventamos que ficou, ou que aconteceu.
Já que o ser humano se relaciona muito mais com o que o corpo consegue perceber do que com o que realmente existe.
O fantástico mundo de Bobby na verdade é um desenho totalmente coerente sobre o universo infantil... E adulto. A diferença é que a criança fantasia com coisas mais divertidas, não com o seu próprio sofrimento.

            “Quem é feliz sempre, e nunca sofre, padece de uma grave enfermidade e precisa ser tratada a fim de aprender a sofrer. Quem não sofre, quando há razões para isso, esta doente. Mas sabedoria é saber sofrer pelas razões certas.” Rubem Alves.
Há quem padeça de excessos. E nesse caso me soam muito compreensíveis,  quase saudáveis alguns tipos de drama. Principalmente os que culminam em literatura, outro tipo de arte ou ação (construtiva) Acaba sendo útil pra gente e pro outro, que acaba encontrando abrigo na dor alheia, e assim, conforto para continuar existindo.
No filme “Nome próprio a personagem Camila (interpretada por Leandra Leal) é escritora, e padece de excessos. Excessos de sentir, excessos de ser.
Às vezes a alma é muito grande e se espreme num corpo medíocre, ou ás vezes cabe tanta coisa no corpo e na alma... Que não se sabe nem por onde começar.
Camila vive e escreve, ou escreve o que vive e seu viver acaba sendo também um pouco inventado pela escrita de suas próprias mãos. Talvez sofra para poder escrever ou não haverá razões para a escrita.
Ela se autodestrói, para poder sentir dor.
Para poder sentir alguma coisa. Quando em nada mais há sentido.
 Porém, também temos mania de sofrer. Com coisas que nunca vão acontecer, com coisas reais (mas sempre perdemos a medida) e sofremos até com o sofrimento dos outros! Sofrer, embora dê trabalho (principalmente para os outros) é muito cômodo.
 Pois quem sofre não age.
Em regra funciona da seguinte maneira: somos autorizados a fazer pouco ou nada para que a situação mude porque o sofrimento de nossa consciência nos absolve. Contardo Caligaris  - escritor e psicanalista.
Sofrer ou não sofrer eis a questão.
Se for sofrer sofra com “finura” e siga as dicas abaixo:
_Leia “O morro dos ventos uivantes”.
_Leia “Carta para além do muro” do Caio F Abreu ouvindo Tatuagem de Chico Buarque.
_Leia “Os sofrimentos do jovem Werther”.
_Ouça “Sonata ao luar” de Beethoven e “Hurt” de Johnny Cash.
_Saiba admitir o quanto o sofrimento pode ser ridículo e o leve às ultimas consequências, como descer a serra cantando Fagner aos berros na janela.
E depois...
_Coma algo bem gostoso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Zoombieland ou... Como sair da vida vivo


Uma comédia com zumbis é no mínimo redundante.

Essa, para minha surpresa é bem legal: Tem a “pequena miss Sunshine”, Wood Harrelson e uma participação especial de Bill Murray, interpretando o próprio Bill Murray disfarçado de zumbi para não ser notado entre eles!
Por mais que se veja sangue, tripas, ossos pra fora... Um zumbi nunca consegue ser realista (espero) o suficiente a ponto de nos por medo. Isso sem contar no famoso: “uuuuuuu”, “brurrr” ou “ããããããã” que eles fazem. Certamente é uma língua que está fora do nosso entendimento, e se eles realmente planejam algo muito cruel a gente nunca vai saber. Não só porque não falamos a língua deles, mas porque zumbis são muito lerdos!
Alguém já viu um zumbi correndo? Ou pior... Alcançando alguém?
Relaxem, ninguém precisa correr de um zumbi, eles são lentos e moles, a primeira porrada já leva um braço. Suspeito de que deviam dar outra função pra eles que encher o saco das pessoas enquanto gemem e soltam melecas. Deviam fazer como o Michael Jackson que pelo menos empregou alguns em Thriller.
Mas, vamos admitir: Quem nunca quis dar um soco num zumbi?
Sempre que eu vejo esses filmes me imagino lutando contra eles, e como em todo filme saindo finíssima deixando uma pilha deles pra trás.
Zumbis são presas muito fáceis.
Mas... Essa coisa de morto vivo existe, só que com a gente é ao contrário. O zumbi tá lá, na ativa, mas o corpo já morreu, está apodrecendo. Com a gente é comum o contrário, a gente sente que lá dentro tá tudo apagadinho, definhando... Enquanto os dias passam e ninguém percebe que a gente “tá” zumbi.
“Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros.” Caio Fernando Abreu.

Mas... Os zumbis se reconhecem só ignoram isso.
Caminham sempre em grandes massas como se fossem os únicos mortos-vivos- frustrados do mundo! Nããão!
 As frustrações são o que temos de mais comum. Porque como eu li num livro “Quem já viveu um pouco sabe que a vida na maioria das vezes é bem difícil”.
E qualquer dor que seja, nunca é só a gente que sente, mas a zumbizisse fala mais alto e a gente vai se fechando, desistindo, deixando a vida se estragar.
Isso não quer dizer que não possamos fazer dela algo bem legal.
Na sociedade moderna é fundamental que aceitemos a frustração para que a economia ande: O seu sabão em pó não é o melhor, mesmo a mesma marca tem um melhor ainda, que é o que você ainda não tem. O seu corte de cabelo não te favorece, o seu carro não anda rápido o suficiente, o seu tipo de corpo não te favorece e você precisa aparentar 30 mesmo tendo 60. Tudo nos empurra, não para mudanças ascendentes, mas para trocas. Porque tudo gira em torno de uma padronização das pessoas, que precisam ser e ter o que não querem ou não precisam, e se frustram deixando a indústria lucrar com isso e se esquece de que a mutação zumbi já começou. Exatamente dessa forma.
O problema não é ser zumbi por um dia, é não saber lidar com isso, não querer lidar com isso e ser zumbi a vida toda!
Por esquecer nossa capacidade de escolha e principalmente... De mudanças!
Segue abaixo minhas dicas de como sair da vida vivo:
_ Não seja aquele que se enfia no metrô quando ele já deu o sinal de que vai fechar e você vê pessoas com a cara esmagada no vidro;
_Não ouça (por mais de 2 horas seguidas) Radiohead, Morrisey, Maysa (nem a grandona nem a pequena);
_ Não compre o que você não precisa, aproveite e dê as coisas que você não usa mais;
_ Não acredite que você vai pro inferno se não for bonzinho;
_Mas acredite que o inferno pode ser aqui, ou não;
E levante a mão que nunca foi zumbi por um dia!



sexta-feira, 1 de julho de 2011

O rei de copas ou... amantes amentes.


No tarot:  O Rei de Copas, diz que você está definindo uma nova forma de ser. Estão abrindo caminhos para você desempenhar novos papéis, eles vem do seu esforço de desenvolver cada vez mais suas potencialidades.

E se ao partir em busca de algo você acabar parando num hospício?
Talvez seja esse o medo de todo mundo, mesmo que a gente esconda bem escondidinho: Medo de que o que a gente gosta ou acredita seja bobagem, seja ridículo, seja loucura.
E que seguindo isso a gente vá parar num caminho ruim, com os esquecidos, ou os loucos.
Toda pequena causa é uma grande causa, e toda grande causa uma grande cura ou uma guerra, parte de um desejo - pelo menos a princípio- bem íntimo, com somente uma pessoa querendo e acreditando, ainda que com o tempo tome proporções maiores. Então... É loucura somente antes que todos acreditem em algo junto conosco?
Normalmente nos sentimos seguros com “a maioria”, quando a maioria quer, aceita, ou gosta, tudo bem. Quando o querer da maioria difere muito do nosso... Sempre parece ter alguma coisa errada. Com a gente. Mas também achar que quem sempre está errado é o outro é muita arrogância. E encontrar esse equilíbrio, distanciamento para saber o que é nosso mesmo e o que é só necessidade de pertencer... Exige estrada.
Esse papo de “a sociedade está louca” doente e blá blá blá é velho e clichezento, então eu vou direto ao assunto:
 O rei de copas é um filme incrível. É nítido como a gente resolve muita coisa na palavra, deixando de agir, e esse filme não se explica ou justifica, cada ação bela e grandiosa é revelada em atitudes, muito pouco em palavras.
Um filme cheio de loucura no seu melhor sentido. Principalmente quando a loucura é uma escolha, que não traz alienação, e sim clareza.
Quanto à loucura em geral, ouvi outra coisa bem boa também faz um tempo no metrô: Um velho falava sozinho, coisas estranhas e bizarras, do tipo não só esquisito, do tipo que tava locão mesmo. Assim que ele saiu do metrô alguém falou alto para o amigo, complacente: “É, cada um enlouquece de um jeito, o dele foi esse”.
 Na hora eu pensei: “Tô ferrada, devo ter um milhão de sementinhas da loucura”.
E o que é a loucura? No dicionário temos:  
Diz-se daquele que perdeu a razão; alienado, doido, maluco.
Insensato, temerário, estróina.
Furioso, alucinado.
Fig. Perturbado, dominado por violenta emoção: ficou louco de alegria.
Intenso, vivo, violento: amor louco.
Absurdo, contrário à razão: projeto louco.

Bom, loucura tem de todos os tipos e tamanhos. Observando os significados acima percebemos também que loucura normalmente está aliada aos excessos.
À intensidade.
Tem realmente um fio muito tênue que liga a loucura a tantos outros sentimentos e emoções, coisas boas inclusive.
Mas ainda é bem comum a loucura ainda ser tratada como doença (não que não seja) mas do tipo que se trata com remédios. Que ignora a emoção e fatores externos.
Sei que muitos discordam da minha opinião, mas acho que nada deveria ser tratado dessa forma, nada se cura definitivamente somente com remédios, talvez se controle, mas acho que é pior ainda controlar. Ainda que os métodos de hoje sejam muito menos arcaicos que antigamente.
Existem alguns estudos contra tais métodos, vendo a “loucura” e suas “vertentes” como resultado da educação que tivemos e castração que vivemos ao longo da vida. Existem médicos e psiquiatras como Roberto Freire, que pensam o seguinte:
Quero dizer que sempre senti grande dificuldade para compreender a neurose das pessoas através das deformações neuróticas produzidas em minha mente e minha vida pela neurose social que atua sobre todos nós. Existem uma série de mecanismos de poder que procuram bloquear o tesão de viver das pessoas, descobri que a Psicologia não tem condições para entender e resolver problemas psicológicos, emocionais e comportamentais. A principal e mais grave neurose que existe é a própria Psicologia. Então, realizando um combate sistemático a tudo o que tenta impedir o prazer de viver em minha natureza animal e, sobretudo, em minha naturalidade e cultura propriamente humanas, começo a ver alguma luz no fim do túnel escuro da Psicologia e da Psiquiatria. (referindo-se à sua pesquisa sobre somaterapia, que vale a pena pesquisar quem tiver curiosidade)
Todo mundo pode desenvolver tais patologias, ou, de repente só não viveu no ambiente propício para que essa semente crescesse. Mas, em maior ou menor grau todos temos nossas loucuras. Que no fundo talvez seja simplesmente uma maneira diferente de enxergar o mundo.
Ainda bem.
“As melhores viagens são feitas através das janelas"

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Shortbus ou... O prazer é todo meu


No Cântico dos CÂnticos, não existe uma só referência
de que o sexo seja somente para procriar. E embora
 haja controvérsias, é um texto bíblico.
Ali, sexo é somente sinônimo de alegria.
Já, segundo Rubem Alves: "Cada amante é um
brinquedo brincante. A frase: Creio na ressurreição do
 corpo, não é a esperança de um milagre escatológico
 no fim dos tempos. É uma possibilidade de cada dia.
 Os sentidos precisam sair do túmulo onde os deveres
 os enterraram."

Menino
(Re) Nasce
De homem
Dentro
De mulher
Tudo é
(M)Eu, abrangido
Pelo teu abrangente
Infinito - Levi Bucalem Ferrari

O filme "Shortbus" choca.
Por falar de sexo o tempo todo. Por ter cena de sexo
 explícito, inclusive com orgasmos reais (ou seja, muito
 mais do que em qualquer filme pornô) Mas ainda
 assim é um filme absolutamente leve. E bonito. E é
 exatamente isso que choca.
Claro que me senti constrangida ao perceber, sozinha,
 no cinema, diante de estranhos, do que se tratava o
 filme. Mas toda essa beleza talvez se deva a uma
 questão muito simples: A intenção do diretor e
 roteirista John Cameron Mitchell de fazer um filme
 sobre sexo. De verdade. Sem muita afetação, firula,
 efeito especial. Inclusive não trabalhou com grandes
 estrelas porque segundo ele: "Astros não fazem sexo".

Para o diretor, sobrava negatividade no
 sexo cinematográfico, associado à frustração ou
 violência, e faltava humor.
O diretor resolveu partir do atentado de 11 de
 setembro e em como isso afetou não só a vida
 econômica, política ou social da cidade de Nova York
 e sim em como os afetou sexualmente, e
 consequentemente suas relações com o mundo.
Isso remete ao impacto que a AIDS também teve a
 décadas fazendo, atravéz do medo, com que as

 pessoas se fechassem para todos os tipos de relação. O

texto abaixo, de  Caio Fernando Abreu (que também

 era portador do vírus) cabe em ambos os contextos:

"A cidade está louca, você sabe. A cidade está doente,
 você sabe. A cidade está podre, você sabe. Como posso
 gostar limpo de você no meio desse doente podre
 louco? ... Como evitaremos que nosso encontro se
 decomponha, corrompa e apodreça junto com o
 louco, o doente, o podre? Não evitaremos.

Numa entrevista com um famoso diretor de filme
 pornô, o repórter pergunta: "O que é sexo pra você?
A gente espera ouvir muitas coisas de um diretor de
 filme pornô, menos o seguinte: "Sexo é uma coisa
 simples, rápida e prazerosa, o resto é tudo invenção".

No filme, todos acabam se superando, a partir do
 momento em que enfrentam seus problemas. E a
partir do momento em que aprendem a se relacionar
 melhor com a própria sexualidade, se relacionam
 melhor com o mundo.

O filme é político, porque tudo é política. Segundo o diretor o filme é um "pequeno ato de resistência contra Bush e a América em que vivemos". Numa sequência por exemplo, três rapazes cantam o hino nacional americano durante o sexo oral. "Ser americano é um monte de coisas. Srr patriótico também. Sou patriótico. Não da mesma forma que Bush é, mas sou". Justifica Mitchell.
Tudo isso pra falar sobre o peso que a gente carrega nas relações. Em todos os tipos de relações. Acolhendo, como se fossem nossos, sentimentos ensinados como:  A culpa, o medo...O pecado.
Hilda Hilst resoveu aos 60 anos de idade publicar livros eróticos. E de cara, a gente até estranha. Estranha uma mulher de 60 anos lidar com sua sexualidade sem pudor, sem culpa, quando deveríamos estranhar o contrário.
"O erótico pra mim, é quase uma santidade.  A verdadeira revolução é a santidade" - Hilda Hilst
O sexo é sagrado independente de questões como o matrimônio ou tudo aquilo que nos é imposto.
Simplesmente porque nós somos sagrados.