No Cântico dos CÂnticos, não existe uma só referência
de que o sexo seja somente para procriar. E embora
haja controvérsias, é um texto bíblico.
Ali, sexo é somente sinônimo de alegria.
Já, segundo Rubem Alves: "Cada amante é um
brinquedo brincante. A frase: Creio na ressurreição do
corpo, não é a esperança de um milagre escatológico
no fim dos tempos. É uma possibilidade de cada dia.
Os sentidos precisam sair do túmulo onde os deveres
os enterraram."
Menino
(Re) Nasce
De homem
Dentro
De mulher
Tudo é
(M)Eu, abrangido
Pelo teu abrangente
Infinito - Levi Bucalem Ferrari
O filme "Shortbus" choca.
Por falar de sexo o tempo todo. Por ter cena de sexo
explícito, inclusive com orgasmos reais (ou seja, muito
mais do que em qualquer filme pornô) Mas ainda
assim é um filme absolutamente leve. E bonito. E é
exatamente isso que choca.
Claro que me senti constrangida ao perceber, sozinha,
no cinema, diante de estranhos, do que se tratava o
filme. Mas toda essa beleza talvez se deva a uma
questão muito simples: A intenção do diretor e
roteirista John Cameron Mitchell de fazer um filme
sobre sexo. De verdade. Sem muita afetação, firula,
efeito especial. Inclusive não trabalhou com grandes
estrelas porque segundo ele: "Astros não fazem sexo".
Para o diretor, sobrava negatividade no
sexo cinematográfico, associado à frustração ou
violência, e faltava humor.
O diretor resolveu partir do atentado de 11 de
setembro e em como isso afetou não só a vida
econômica, política ou social da cidade de Nova York
e sim em como os afetou sexualmente, e
consequentemente suas relações com o mundo.
Isso remete ao impacto que a AIDS também teve a
décadas fazendo, atravéz do medo, com que as
pessoas se fechassem para todos os tipos de relação. O
texto abaixo, de Caio Fernando Abreu (que também
era portador do vírus) cabe em ambos os contextos:
pessoas se fechassem para todos os tipos de relação. O
texto abaixo, de Caio Fernando Abreu (que também
era portador do vírus) cabe em ambos os contextos:
"A cidade está louca, você sabe. A cidade está doente,
você sabe. A cidade está podre, você sabe. Como posso
gostar limpo de você no meio desse doente podre
louco? ... Como evitaremos que nosso encontro se
decomponha, corrompa e apodreça junto com o
louco, o doente, o podre? Não evitaremos.
Numa entrevista com um famoso diretor de filme
pornô, o repórter pergunta: "O que é sexo pra você?
A gente espera ouvir muitas coisas de um diretor de
filme pornô, menos o seguinte: "Sexo é uma coisa
simples, rápida e prazerosa, o resto é tudo invenção".
No filme, todos acabam se superando, a partir do
momento em que enfrentam seus problemas. E a
partir do momento em que aprendem a se relacionar
melhor com a própria sexualidade, se relacionam
melhor com o mundo.
O filme é político, porque tudo é política. Segundo o diretor o filme é um "pequeno ato de resistência contra Bush e a América em que vivemos". Numa sequência por exemplo, três rapazes cantam o hino nacional americano durante o sexo oral. "Ser americano é um monte de coisas. Srr patriótico também. Sou patriótico. Não da mesma forma que Bush é, mas sou". Justifica Mitchell.
Tudo isso pra falar sobre o peso que a gente carrega nas relações. Em todos os tipos de relações. Acolhendo, como se fossem nossos, sentimentos ensinados como: A culpa, o medo...O pecado.
Hilda Hilst resoveu aos 60 anos de idade publicar livros eróticos. E de cara, a gente até estranha. Estranha uma mulher de 60 anos lidar com sua sexualidade sem pudor, sem culpa, quando deveríamos estranhar o contrário.
"O erótico pra mim, é quase uma santidade. A verdadeira revolução é a santidade" - Hilda Hilst
O sexo é sagrado independente de questões como o matrimônio ou tudo aquilo que nos é imposto.
Simplesmente porque nós somos sagrados.

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