segunda-feira, 13 de junho de 2011

Shortbus ou... O prazer é todo meu


No Cântico dos CÂnticos, não existe uma só referência
de que o sexo seja somente para procriar. E embora
 haja controvérsias, é um texto bíblico.
Ali, sexo é somente sinônimo de alegria.
Já, segundo Rubem Alves: "Cada amante é um
brinquedo brincante. A frase: Creio na ressurreição do
 corpo, não é a esperança de um milagre escatológico
 no fim dos tempos. É uma possibilidade de cada dia.
 Os sentidos precisam sair do túmulo onde os deveres
 os enterraram."

Menino
(Re) Nasce
De homem
Dentro
De mulher
Tudo é
(M)Eu, abrangido
Pelo teu abrangente
Infinito - Levi Bucalem Ferrari

O filme "Shortbus" choca.
Por falar de sexo o tempo todo. Por ter cena de sexo
 explícito, inclusive com orgasmos reais (ou seja, muito
 mais do que em qualquer filme pornô) Mas ainda
 assim é um filme absolutamente leve. E bonito. E é
 exatamente isso que choca.
Claro que me senti constrangida ao perceber, sozinha,
 no cinema, diante de estranhos, do que se tratava o
 filme. Mas toda essa beleza talvez se deva a uma
 questão muito simples: A intenção do diretor e
 roteirista John Cameron Mitchell de fazer um filme
 sobre sexo. De verdade. Sem muita afetação, firula,
 efeito especial. Inclusive não trabalhou com grandes
 estrelas porque segundo ele: "Astros não fazem sexo".

Para o diretor, sobrava negatividade no
 sexo cinematográfico, associado à frustração ou
 violência, e faltava humor.
O diretor resolveu partir do atentado de 11 de
 setembro e em como isso afetou não só a vida
 econômica, política ou social da cidade de Nova York
 e sim em como os afetou sexualmente, e
 consequentemente suas relações com o mundo.
Isso remete ao impacto que a AIDS também teve a
 décadas fazendo, atravéz do medo, com que as

 pessoas se fechassem para todos os tipos de relação. O

texto abaixo, de  Caio Fernando Abreu (que também

 era portador do vírus) cabe em ambos os contextos:

"A cidade está louca, você sabe. A cidade está doente,
 você sabe. A cidade está podre, você sabe. Como posso
 gostar limpo de você no meio desse doente podre
 louco? ... Como evitaremos que nosso encontro se
 decomponha, corrompa e apodreça junto com o
 louco, o doente, o podre? Não evitaremos.

Numa entrevista com um famoso diretor de filme
 pornô, o repórter pergunta: "O que é sexo pra você?
A gente espera ouvir muitas coisas de um diretor de
 filme pornô, menos o seguinte: "Sexo é uma coisa
 simples, rápida e prazerosa, o resto é tudo invenção".

No filme, todos acabam se superando, a partir do
 momento em que enfrentam seus problemas. E a
partir do momento em que aprendem a se relacionar
 melhor com a própria sexualidade, se relacionam
 melhor com o mundo.

O filme é político, porque tudo é política. Segundo o diretor o filme é um "pequeno ato de resistência contra Bush e a América em que vivemos". Numa sequência por exemplo, três rapazes cantam o hino nacional americano durante o sexo oral. "Ser americano é um monte de coisas. Srr patriótico também. Sou patriótico. Não da mesma forma que Bush é, mas sou". Justifica Mitchell.
Tudo isso pra falar sobre o peso que a gente carrega nas relações. Em todos os tipos de relações. Acolhendo, como se fossem nossos, sentimentos ensinados como:  A culpa, o medo...O pecado.
Hilda Hilst resoveu aos 60 anos de idade publicar livros eróticos. E de cara, a gente até estranha. Estranha uma mulher de 60 anos lidar com sua sexualidade sem pudor, sem culpa, quando deveríamos estranhar o contrário.
"O erótico pra mim, é quase uma santidade.  A verdadeira revolução é a santidade" - Hilda Hilst
O sexo é sagrado independente de questões como o matrimônio ou tudo aquilo que nos é imposto.
Simplesmente porque nós somos sagrados.