sábado, 30 de abril de 2011

É proibido fumar ou...E o vazio da caixa de fósforos

 “Eis depois que solto a fumaça de um jeito que não sei se é sopro ou suspiro. Eis” Caio F. Abreu

No fundo, eu acho que todos os filmes falam sobre solidão...  Então... Pelo menos pra mim, esse é mais um filme sobre solidão. Ou... Sobre colocar coisas na boca.
Ele está parando de fumar, e ela depois de muito tentar assume não conseguir. Assume não querer.
Assume e aceita, mesmo que com culpa, quem ela é, e o que é capaz de fazer.  E que é isso que tem para dividir com que estiver ao seu lado.
Ainda que não seja perfeito o que a gente tem, é melhor ter alguém pra dividir... Nossa fumaça.
Já ele, Paulo Miklos, super carismático (dá vontade de ter um tio assim) mesmo deixando claro que o que quer da vida são outras coisas, no final, a aceita e acolhe, com fumaça e tudo. Não sabemos se por solidão, se por amor.
Esse é um resumo bem básico pra não quebrar as surpresas do filme, que não fala sobre fumantes, mas os tem como personagens principais. A fumaça paira como forma de fuga, de uma tentativa desesperada de calar, de falar. De ter.
 Tem gente que diz que é viciado no gesto. Me pergunto se tem a ver com ter algo nas mãos. Como quem vai pra um bar e pede alguma coisa só pra ter algo pra beber.  Qualquer coisa pra beber. Isso eu sei por que no bar tinha gente que me pedia pra servir água num copo bacana só pra parecer que estava bebendo algo. Ou nas minhas palavras pra “pagar de alcoólatra”. Só pra não se sentir deslocado, sem nada pra... Fazer? Pra ter?
 Freud dizia que o cigarro seria somente um substituto da masturbação, mais no sentido de agir como uma válvula de escape à todas as nossas energias reprimidas. Mas, dizem também, que hábitos como morder canetas não está longe disso, essa necessidade de ficar mordendo coisas denota desejos reprimidos. Dizem.
Tudo isso... Mas não quero psicologizar.  Não sei por que eu tenho os meus maus hábitos e vícios e cada um fuma por um motivo, por todos os motivos, por nenhum motivo, só fuma e pronto.
Ainda não gosto de cigarro: Gosto, cheiro... Mas... Gosto tanto das pessoas.
 Gosto dos fumantes.
E como também tenho, ou melhor, temos todos nossos vícios, desejos reprimidos e vontade de se sentir pelo menos um pouquinho menos deslocados ou inadequados... Bora colocar algo na boca, digo, dividir nossas fumaças.


 _Você tem um cigarro?
_Estou tentando parar fumar.
_Eu também. Mas queria ter uma coisa nas mãos agora.
_Você tem uma coisa nas mãos agora.
_Eu?
_EU.
(Caio, de novo)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Dirty Dancing ao contrário

Uma garota desengonçada (mas no fundo, láááá no fundo muito sexy) se apaixona e vai fazer aulas de dança.
Na verdade ela tem que aprender pra ajudar um amigo, ou na verdade mais para ajudar a si mesma.
Isso muda a vida dela, faz com que ela se descubra uma nova pessoa e novos valores, expanda seus limites, assuma ser o que sempre quis ser ou no fundo já era, e de lambuja pega o Patrick Swayze, transforma ele num cabra muito macho e ele até grava uma música (Shes like the Wind), que toca na Alpha FM até hoje.
Ou... Vai fazer aula de dança e se apaixona. Ou vai fazer porque se “desapaixonou”.
 Ou, está tão aberta para o novo porque o passado e o presente não fazem mais sentido, que se apaixonando ou não, ela faria até aula de caligrafia ou reciclagem.
Eu sempre gostei muito de filmes de dança.
Até aquele com o Richard Gere (quem diria o Richard Gere dançando, apesar de que no Chicago ele tem uma cena em que até arranca as calças à la clube das mulheres e fica de samba canção)
Mas, estamos falando de Dirty Dancing cuja tradução seria algo como “Dança suja” mais no sentido de “dança proibida” ou algo muito pior e mais brega como uma “dança safada” (é que eles não conheciam o nosso famoso rala-coxa).
 Mas, não é só em filmes que a dança encanta e transforma a vida das pessoas.
Eu, nunca achei isso muito possível, pelo menos não nessa dimensão.
Mas me senti num filme ao fazer aula de uma das ramificações da “dança proibida”.
 È muito legal sim. Tudo bem que tem músicas com letras muito cafonas   e remixes estanhos como  um  do “Hotel Califórnia” (acredite, não é nada sexy dançar isso)
 Mas de alguma forma a dança ajuda a alcançar outras dimensões de si mesmo. Você começa a ter outra relação com seu corpo (é obrigado a fazer coisas estranhas olhando pro espelho fazendo carão, isso ajuda) E quando é obrigado a dançar com outra pessoa... Digo “obrigado” porque eu sempre tive dificuldade, por ter mania de achar que sou o homem da relação e ficar levando o cara, ou simplesmente por se desengonçada mesmo e uma outra pessoa tão perto me intimide. Enfim, a gente aprende outras formas de se relacionar também, de tocar e de trocar.
Mas as semelhanças com Dirty Dancing não acabam por aí não:
Assim como em Dirty Dancing saía da aula cantarolando, ou durante a semana, sozinha na rua, treinava passinhos com um parceiro imaginário. Minha mãe até foi contra... Mais porque ela achou que eu poderia estar fazendo algo mais útil com meu tempo, ou pelo menos aprendendo uma dança em que as pessoas não falem: “Ai que brega” quando você comenta. Algo como tango ou... Sei lá... Break?
Bom, fora isso faltou só o Patrick Swayze.
Conta se eu disser que tinha um pôster dele no meu quarto quando eu era criança? E ele estava em pensamento? No meu, não no dele, claro.
Ok, não tem nada de Dirty Dancing essa história, nada de “safado”, proibido e emocionante. Nada de Patrick Swayze ou qualquer coisa perto disso, mas eu realmente adoooro esse filme e adoro filmes de dança.
Pra dizer a verdade acho que tem a ver sim.
Eu não era o casal principal, mas, talvez, algum casal ao lado, no baile final...
 Algum casal que não acerta os passinhos, que não tem nenhuma química, que apareceu por acaso, mas que adoraria viver uma história grandiosa para estar no foco da câmera e ganhar continuação anos depois.

domingo, 24 de abril de 2011

A festa de Babette

Produção de 87. Adaptação de uma obra feita por uma mulher: Karen Blixen, que usava o pseudônimo Isak Dinesen, já que na época, mulheres escritoras não eram bem vistas pela sociedade. Pra mim, a obra já começa a ser interessante a partir desse ponto.

 No fim do séc XlX, Babette chega a Dinamarca fugida da guerra na França. Um dia, descobre que ganhou um prêmio na loteria e ao invés de voltar à França, pede permissão para preparar um banquete comemorativo. O vilarejo em geral se preocupa pois sabiam que...Comer é muito perigoso.

Qualquer tipo de prazer é uma forma de ser enfeitiçado, entrar num transe qualquer, ainda que temporariamente.

Quando eu trabalhava no bar e tinha que preparar aqueles coquetéis cheios de enfeites com frutas (que os homens sempre pediam: “Põe num copo de homem e tira esses negócios, por favor” ) Eu não me conformava, simplesmente não me conformava com as pessoas que largavam morangos e carambolas e polpas de Kiwi abandonadas na beirada ou no fundo do copo.
Elas, que pediam desesperadamente para serem degustadas e usufruídas!
 Não me conformava com esse descaso com as frutas, talvez com o meu trabalho, mas, principalmente com o próprio prazer.
Se eu bebesse, ia bebida, ia fruta, se bobeasse ia até copo junto! Eu como a minha cereja do bolo e a dos outros!
Nunca fui dessas pessoas que guarda o último pedaço do chocolate pra comer depois. Acho tão cool, mas não consigo.
Haja desprendimento para embrulhar fria e cuidadosamente o dito cujo e guardar.
Ah não! Em mim ainda habita uma criança gulosa. Com uma fome que me traz indigestão.
 E mesmo que eu não aguente mais, eu como até ver esgotada minha fonte de prazer, ainda que me faça mal.
Mas como... Devoro o mundo.
Me empanturro até dos enfeitinhos pra decoração, ainda que seja falso, de mentira.
Quando é a hora certa de parar? Quando algo te instiga e satisfaz em alguma parte, em algum aspecto... Por que parar? Talvez em função de sua própria saúde física ou mental. Mas qual o momento exato de dar esse espaço do respiro? Para que lentamente e naturalmente outras possibilidades e sabores surjam?


É possível encontrar o paraíso sem morrer? É possível resistir à um chamado ao prazer?

Mas no caso do filme, o céu estava ali, naquela mesa.

E o paraíso está nesses raros momentos de encantamento.

No filme, os moradores da região e religiosos inclusive, temiam  esse chamado aos prazeres terrenos.

E por que o medo?
Talvez o medo de se deparar com seus desejos e talvez com isso... O descontrole.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Apenas o fim


Eu sou aquela vontade que dá, de repente, de tomar Fanta Uva.
- Você é o Menthos.




Quando o fim se anuncia.
Quando o fim já vai chegando e empurrando todos no caminho para ocupar seu lugar de direito. Quando você não deixa ele entrar e resiste o quanto pode, mas parece que o fim é maior que tudo.
Nada consegue ocultar a sombra que o fim faz quando ele dá o seu primeiro sinal.
Ele é espaçoso, ele é folgado, ele é onipresente. Quando você pressente, tudo já se torna despedida.
Porque é tão difícil lidar com o fim?
Numa vida de incerteza nem sempre é animador se abrir para o novo. O novo é um infinito de possibilidades. O novo pode ser nada. O novo pode ser amargar o passado.
Acho que na verdade o fim e o começo são meio irmãos. Mas o fim é uma bofetada e o começo um abismo.
Ou o contrário.
A gente tem que lidar com o fim todos os dias.
 Às vezes com o mesmo tipo de fim, até se convencer de que ele existe. Até fazer ele “findar” outras coisas também. O fim nos acompanha fiel, porque se não nos acompanhar, não faz sentido buscar novos começos.
Pra ter certeza de que o fim valeu a pena, de que o fim não teria outro momento para brotar. De que o fim veio para que novos caminhos surgissem.
 A gente tem que lutar contra o fim, e pelo fim. Lutar pra conseguir se despedir e se desimpregnar de uma história, para que então ela tenha chance de se transformar.
Apenas o fim é bem isso.
Bem... Prático, na verdade. Porque o que é...é! Porque ás vezes não existe um motivo concreto, é só o fim se anunciando em vários sinais, e ele merece ser respeitado, é só porque é a hora das coisas amadurecerem e se transformarem... E se a gente não deixa amadurecer, passa do ponto e apodrece.
É um roteiro que se sustenta na simplicidade, e acaba não carecendo de nenhuma firula pra passar o recado. Referências ao universo pop, anos 90 de um jeito que me parece despretensioso.
Melancólico de umjeito divertido.
Como poderiam ser todos os fins.


                                                     “E agora?”
“E agora... o resto das nossas vidas”