domingo, 24 de abril de 2011

A festa de Babette

Produção de 87. Adaptação de uma obra feita por uma mulher: Karen Blixen, que usava o pseudônimo Isak Dinesen, já que na época, mulheres escritoras não eram bem vistas pela sociedade. Pra mim, a obra já começa a ser interessante a partir desse ponto.

 No fim do séc XlX, Babette chega a Dinamarca fugida da guerra na França. Um dia, descobre que ganhou um prêmio na loteria e ao invés de voltar à França, pede permissão para preparar um banquete comemorativo. O vilarejo em geral se preocupa pois sabiam que...Comer é muito perigoso.

Qualquer tipo de prazer é uma forma de ser enfeitiçado, entrar num transe qualquer, ainda que temporariamente.

Quando eu trabalhava no bar e tinha que preparar aqueles coquetéis cheios de enfeites com frutas (que os homens sempre pediam: “Põe num copo de homem e tira esses negócios, por favor” ) Eu não me conformava, simplesmente não me conformava com as pessoas que largavam morangos e carambolas e polpas de Kiwi abandonadas na beirada ou no fundo do copo.
Elas, que pediam desesperadamente para serem degustadas e usufruídas!
 Não me conformava com esse descaso com as frutas, talvez com o meu trabalho, mas, principalmente com o próprio prazer.
Se eu bebesse, ia bebida, ia fruta, se bobeasse ia até copo junto! Eu como a minha cereja do bolo e a dos outros!
Nunca fui dessas pessoas que guarda o último pedaço do chocolate pra comer depois. Acho tão cool, mas não consigo.
Haja desprendimento para embrulhar fria e cuidadosamente o dito cujo e guardar.
Ah não! Em mim ainda habita uma criança gulosa. Com uma fome que me traz indigestão.
 E mesmo que eu não aguente mais, eu como até ver esgotada minha fonte de prazer, ainda que me faça mal.
Mas como... Devoro o mundo.
Me empanturro até dos enfeitinhos pra decoração, ainda que seja falso, de mentira.
Quando é a hora certa de parar? Quando algo te instiga e satisfaz em alguma parte, em algum aspecto... Por que parar? Talvez em função de sua própria saúde física ou mental. Mas qual o momento exato de dar esse espaço do respiro? Para que lentamente e naturalmente outras possibilidades e sabores surjam?


É possível encontrar o paraíso sem morrer? É possível resistir à um chamado ao prazer?

Mas no caso do filme, o céu estava ali, naquela mesa.

E o paraíso está nesses raros momentos de encantamento.

No filme, os moradores da região e religiosos inclusive, temiam  esse chamado aos prazeres terrenos.

E por que o medo?
Talvez o medo de se deparar com seus desejos e talvez com isso... O descontrole.

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