segunda-feira, 30 de maio de 2011

Histórias de amor duram apenas 90 minutos



 
Ser dramático é cultural?
Sei que a culpa é, bastante. E hoje, e cada vez mais existem coisas novas para serem sentidas. Ou coisas velhas com novos nomes... Hoje as pessoas são bipolares, a depressão é uma doença, tratada com medicamentos e as pessoas sofrem bulling.
A solidão é uma espécie de “mal do século”.
Que eu saiba a solidão é bem velha, mas realmente, devo concordar que as pessoas sofrem cada vez mais com isso. Talvez em função do estilo de vida que temos atualmente, cada vez mais as pessoas se encerram em si mesmas, pra se protegerem, por medo, por hábito, não sei. Sei que li um artigo muito interessante a respeito na Folha de SP e segundo um teste do próprio jornal eu sofro de um “alto índice de solidão”. Tudo porque saio muito sozinha, gosto de ficar em casa e tenho poucos amigos.
Então fiquei me perguntando o que é realmente a solidão.
 Se é estar sozinho ou se sentir sozinho. No Aurélio solidão é o estado de quem se acha ou vive só. Mas não deveria ser: O estado de quem se acha e vive só e acha isso ruim? Porque eu me acho só, mas quase sempre acho isso positivo. O problema não é nem com o Aurélio, é que a palavra “só” soa sempre tão pesada. E existem solidões tão construtivas...
E nem estou me defendendo pra dizer que não sou uma pessoa solitária, talvez eu só esteja querendo dizer que é muito relativa essa questão do convívio, da presença física de alguém. A coisa mais normal do mundo é estar acompanhado e se sentir só. Não sei dizer quantas vezes alguém partiu da minha vida levando minha solidão embora, junto com ela.
Sobre ser dramático... É aí que quero chegar. Conheço pessoas que conseguem ser tão práticas, acho que é um sinal de maturidade, personalidade, não sei. Talvez fazer drama tenha a ver com carência também, uma forma de chamar atenção, de pedir atenção.
Mas... Quem já viu super Nani? Repito: Quem já viu super Nani? Eu acho legal, e quem já viu percebe que somos educados pra sermos dramáticos! Desde alguns meses de idade já aprendemos como chamar atenção pra ter o que desejamos. Quando crescemos, mesmo que de forma inconsciente fazemos a mesma coisa, às vezes até com direito a choro e bico.
E além dessa questão da carência, acho que é cultural porque todo mundo quer ser um mártir! Sim, essa é mais uma das belas heranças que a igreja nos deixou.
A gente gosta de sofrer, talvez se sinta mais importante assim.
E agora falo totalmente por mim, mas às vezes acho que eu faço drama por ver filmes demais. Por me sentir, ou querer ser uma personagem de uma grande história. Quantas vezes não imaginei até trilha sonora para alguma coisa forte que me aconteceu? E quem, não parou de chorar, pelo menos por uns 2 segundos, completamente esquecido de sua dor, ao se deparar com um espelho ou reflexo qualquer? Ou quem nunca chorou horrores e ainda com lágrimas nos olhos por um momento não se perguntou: Porque eu tava chorando mesmo?
“Eu ajo, eu penso, eu falo como se eu pertencesse a um romance”.
E faço minhas as palavras de Zeca, personagem do filme vivido por Caio Blat. Um escritor que não consegue escrever. Às vezes parece que ele sofre só pra ter o que sentir ou só pra se sentir parte de algo.
“Existem pessoas que simplesmente não conseguem ser felizes.”
“Não gosto de chuva, não gosto de sol, não gosto de porra nenhuma”.
“Sou do tipo que se suicida. Mas não dá pra se matar com 30 anos.”
Tem gente que sofre mesmo. Tem muita coisa pra doer na vida, mas... Não sempre. Ou talvez, mesmo que a dor sempre paire de alguma forma talvez exista uma forma de encarar melhor a dor, para que ela cumpra sua função, mas não se instale.
Zeca é daquelas pessoas que quer ser mártir, mas não tem talento para isso. Acho que poucos têm. Ele quer ser sofredor, mas é tão deslocado que muitos de seus dramas soam cômicos.
_Você foi o primeiro homem que deu pra mim.
Essa fala é dita por uma mulher, em um dos momentos engraçados do filme, um dos momentos em que Zeca mete os pés pelas mãos por querer ser um herói romântico (como ele mesmo diz: perdido entre o era uma vez, e o nunca mais) e querer viver duas histórias de amor, ao mesmo tempo.
Muitas vezes colocamos a nossa cota de drama nas relações amorosas. Quando não precisamos, quando a relação não precisa de drama nenhum.
E sem drama tem graça?                                                      
Talvez. Talvez a gente consiga enxergar além de algumas fronteiras e descobrir novas cores.
_Vou dormir.
_E eu?
_Você tem que crescer agora.
Sobre o título... “Histórias de amor duram apenas 90 minutos”... Bem, eu não sei quanto duram e nem a medida do tempo ou do sentir. Mas... Discordo do trecho do filme que segue abaixo:
_Há mais paixão nas páginas de um livro do que entre qualquer par de coxas.
A realidade, seja lá o que isso for, pode nos surpreender. E acredito que devemos nos escorar nela, acolhe-la, para que aos pouquinhos possamos estar com os dois pés firmes, vivendo, sem fugas ou dramas.
E igualmente felizes, e verdadeiramente felizes.
Ou não, porque não dá pra estar sempre feliz. E tudo bem. Pelo menos estaremos vivendo de verdade.
Mais uma citação do filme, que me cabe agora:
_Toda vez que começo a escrever acabo falando de mim.
Me despeço agora, com dicas e sugestões para bons momentos de drama:
_Não perca a oportunidade de caminhar na chuva – chorando, é claro;
_ Ao terminar uma relação, ouça Love hurts, do Nazareth;
_Escreva uma carta de despedida- mesmo que não queira realmente se despedir.
_Fale: “Por que”? Em voz alta, olhando para o céu. É fundamental que seja em céu aberto, de preferência à noite.
_Vá para algum bar, pub ou boteco, sozinho. Peça uma bebida (não precisa ser alcoólica, só não vale se for daqueles coquetéis cheios de enfeites ou guarda-chuvinha) e beba quieto num canto. Suspire alto, é importante.
Boa sorte.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

À deriva


Imagine uma avalanche.

Aquela imagem que, de tão grandiosa, por mais que aconteça rápido, parece sempre ser em câmera lenta.
E mesmo quando tem pessoas ao redor (numa imagem de filme por exemplo) mesmo sabendo que elas estão todas ferradas...Não tem como não olhar para aquela imagem e, ainda assim, não achar bonito.
 É trágico e belo.
A destruição é sempre lenta, como uma pessoa que só morre depois de ser muito torturada.
Porque pra destruição acontecer de verdade, você tem que negar ela várias vezes, pra que quando ela venha por completo ela já tenha acabado com tudo que estava pelo caminho.
Com coisas que a gente nem imaginava existir.
_Mas eu não quero ir!
_Mas as coisas acabam.
Em “A deriva”, os sempre charmosos Debora Bloch e Vincent Cassel vivem um casal em crise. Crise que demora a se construir, a se estabelecer, de um jeito que-como todas as crises e todos os finais- você mal percebe e por vezes duvida até o último momento.
Mesmo que o que a gente ache ser o “último momento” se repita tantas e tantas vezes.
Mas a destruição do que era uma relação, uma família, um amor... É bonita.
Porque nela se constroem novas pessoas.
 Porque a infidelidade pode ser só uma forma de reconstruir sua autoestima, porque perder a virgindade pode ser uma decisão brusca de crescer junto com a vida.
A água está presente no filme como um elemento de transformação, de purificação.
 Desde as brincadeiras com os amigos na praia, o banho pra curar a mãe doente, ou o marido que tendo tomado uma decisão finalmente resolve lavar a louça, e a partir disso volta a ter mais atitude, parece que o fluxo que corre da torneira abre também caminhos internos nele, que até volta a escrever – já que seu personagem é um escritor em crise.
“Não há nada mais destrutivo que insistir sem fé nenhuma” Caio F. Abreu
O fim é mais que uma destruição. É uma libertação.
Libertação de um relacionamento que não faz mais sentido- e não precisa nem ser amoroso, de um modo de vida, ou só da visão que tínhamos de alguém, projetada e construída por nossas próprias carências.
A gente até deseja que as coisas mudem, mas quando mudam, a gente resiste.
Precisa de coragem pra evoluir, e se a gente resiste, a vida leva à gente a força.
O casal do filme resiste tanto, que em alguns momentos pensei que a esposa vivida por Débora Bloch tinha morrido. Ou se matado, de dor, de sofrimento, de tanto beber.
_Um dia você já disse que me amava.
_Faz tempo.
Ás vezes permitimos que uma relação destrua o que há de melhor em nós por falta de coragem pra ir embora. Porque a pessoa mais íntima se torna uma estranha, porque simplesmente a gente muda, e muda de jeitos diferentes. Ou porque percebe também, que no fundo, nunca foi igual.
 “...porque é certo que as pessoas vão crescendo e se modificando, mas estando próximas, uma vai adequando seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e a modificação da outra. Mas estando distantes, um cresce e se modifica num sentido e outra noutro, completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra.” Caio F. Abreu
Quando o casal do filme discute, quando o negócio fica feio mesmo, eles falam em francês (nacionalidade do ator e do personagem também). Imagino que a gente realmente saia um pouco da gente pra entrar em outra realidade, outro universo quando o clima pesa, mas, diria que tem coisa que a gente tem que resolver em “outra língua” mesmo. Com o invisível, só com a gente mesmo... E por mais que seja importante não deixar nada pendente, ás vezes é melhor usar a linguagem do não - dito. Tem coisas que se resolvem sozinhas, de outras formas. Tem coisa que é e pronto e não adiante se explicar e não adianta pedir explicação.
Por todos os nossos fins... Que incluem novos inícios.
Enterremos nossos defuntos!
“Meus belos olhos separados do mundo
Onde estão os mortos estou mais vivo
Eu queria poder repetir o mundo
Não ser apenas sombra de uma sombra
Meus belos olhos tornem-me visível
Eu não quero terminar em mim.” Paul Eluard.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bem me quer mal me quer ou... E com meu corpo em chamas fiz amor com o homem do gás


“Absurda e mexicana e encerrada em si e independente do que a despertara: A paixão”  Caio F. Abreu

A realidade que eu vejo e acredito foi construída de tal forma que é diferente da “realidade” de qualquer outro. Quando digo “realidade” me refiro à nossa visão de mundo.
No fundo, estamos sempre escolhendo no que acreditar.

“Ninguém a outro ama, se não que ama
"O que de si há nele" Ricardo reis

E na paixão, cheios de expectativas, acreditamos que o outro é: 1- Tudo o que somos 2- Tudo o que fomos 3- Tudo o que queríamos ser.
Ou, um pouco de cada. E, talvez, na forma como lidamos com a realidade que é imposta a cada encontro (por mais perfeito que pareça) surja, nasça, ou se construa o amor...
 Ou não.
Mas, independente do objeto da nossa paixão muitas vezes o mais interessante é se apaixonar.
O outro é só um pretexto. Por isso a paixão age em nós como um vício e às vezes escolhemos quase que conscientemente alguém apto para ser alvo de nossa paixão.
Resumindo: O outro acaba sendo um coitado qualquer que é obrigado a atingir nossas expectativas inatingíveis.
A gente se frustra ao perceber que o outro simplesmente não é o que queríamos (inventamos) e bota a culpa no outro e não em nós mesmos.
Tem uma cena ótima do terça Insana, onde a personagem da esposa frustrada conta que a paixão é como aquelas imagens gigantes de papelão, onde tem um buraco no lugar do rosto da pessoa e você substitui pelo seu pra tirar a foto.
Uma imagem de papelão do Ronald Mcdonald por exemplo.
O objeto da sua paixão é um coitado qualquer que se encaixa nas suas expectativas e desejos (corpo do Ronald Mcdonald) você vai lá, segura no cabelo do coitado e “táca” a cara dele no buraco. E depois ainda acha ruim se não encaixa.
Ok... Tudo bem, a paixão também pode ser algo muito bonito que acontece do nada e transforma nossas vidas. Mesmo que às vezes dure um dia, ou uma noite. Afinal, qualquer coisa que nos traga mais vida é sempre boa.
Mas, na falta de uma relação, a gente encontra pretextos para sentir palpitação, desejo, estímulo para existir de uma forma onde a gente só existe ou “acontece” na relação amorosa.
Coisa que a gente faz com maestria na infância ou adolescência.

Quando o rapaz da padaria te dá um oi e você tem certeza (ou finge ter) de que ele nutre uma paixão secreta por você, e isso te basta para ir para escola mais feliz.
O filme, de 2002 (estrelado por Amelie Poulain, digo, Audrey Tatou): À la folie... Pas du tout
 Fala, na verdade, de algo muito mais sério: A erotomania, também conhecida como síndrome de Clérambault.
A erotomania está no contexto de esquizofrenia,e consiste na convicção delirante de uma pessoa que acredita que outra pessoa está secretamente apaixonada por ela.
Quem sofre da síndrome normalmente acredita que o objeto de sua paixão se comunica com ela sutilmente atravéz de gestos, postura, enfim, uma linguagem beeem subjetiva...
Achei uma definição muito boa onde diz que a erotomania é o delírio de ser amado, ao contrário do ciúme que seria talvez o delírio de não ser amado.

No filme, essa questão é muito bem retratada.
A "Amelie" é sempre encantadora, e o filme surpreende muito utilizando o recurso de flashbacks para que possamos ver as diferentes visões de cada "realidade".
 Trazendo assim, uma reviravolta na nossa própria visão da história.

A visão de cada personagem a respeito de uma mesma situação, de um mesmo gesto, é totalmente oposta. Pra não dizer assustadoramente oposta.
Qual é a verdadeira? Se não acreditamos no que uma pessoa sente o sentir dela é menos verdadeiro?
Nesse caso, a realidade então seria o consenso da maioria?
Um ótimo filme, e vale ressaltar que apesar dele surpreender o tempo todo, ainda sobra um pouquinho pra você ficar muito “passado” com o momento final.
Sendo assim, acredito que na verdade todos inventam.
 Cada vez mais conscientemente.
Não tenho sonhos eróticos com o cara do comercial de desodorante ou acredito que quando um bonitão fala na tv: “Devassa” Ele esteja falando pra mim... Mas, acredito que no nosso cotidiano a gente tende a incrementar a rotina inventando “paixõezinhas” com pessoas cujo nome daqui a algum tempo nem vai lembrar. Com pessoas que a gente sabe que no fundo não tem nada a ver e não vai dar em nada. Como por exemplo, o cara do metrô (que você tem certeza que ele está saindo mais cedo do trabalho só pra pegar metrô com você), a recepcionista do dentista (Que pediu seu telefone pra te ligar e não pra ter no cadastro), aquela pessoa que te presta algum serviço mas, vocês só se falam por telefone, ela tem uma voz incrível, mas você sabe que o legal da história é justamente ficar só nisso e nunca descobrir se ela tem 70 anos e é casada.
Claro que, cada caso é um caso e tudo tem que ter uma medida.
Se inventamos “paixõezinhas” por falta do que fazer, porque é natural e orgânico, ou por que no fundo também temos medo de lidar com a realidade e levar uma bota já é outra questão.
Segue abaixo minha lista (e sugestão) de 5 musicas preferidas no quesito bregas apaixonadas.
Caminhoneiro – Roberto Carlos
Meu dengo – Roberta Miranda
I just call to say I love you – Stevie Wonder
Eternal flame – The bangles
Caça e caçador – Fábio Junior





segunda-feira, 9 de maio de 2011

O signo da cidade e... O tempo é nublado na cidade de São Paulo

Às vezes eu fico meio assim, mas depois passa.”

Quando passo pelo centro de São Paulo e vejo mulheres bonitas, algumas muito bem vestidas sentadas num banquinho velho de madeira ao lado de alguma cartomante ou mãe de santo, penso que encontro todos os dias com essas pessoas, nas ruas, no metrô... E nunca iria imaginar que assim como eu, elas também sofrem. Às vezes muito mais.
Me surpreendo nessas horas ao me deparar com o óbvio:
Todo mundo é sozinho. E todo mundo quer respostas.
Precisamos de sentido.
Precisamos de consolo.
Quando não temos religião, inventamos uma própria, qualquer coisa que signifique algo pra gente.” Adélia Prado
E de novo, Adélia: “Eu descanso naquilo que é maior que eu”
No filme, todos estão em busca de ajuda, de consolo, de significado.
Unidos em sua solidão, de um jeito harmonioso, bonito, acolhidos nesse cinza de São Paulo.
E ao ver o filme, fiquei feliz ao perceber que eu moro num cenário.
Porque a cidade ecoa tão alto nas histórias, que às vezes acho que eles (personagens) são cenário ou, pano de fundo para a própria cidade.
Nessa cidade tão cheia de gente, ninguém sabe o que você sente, ninguém quer saber de ninguém” – na voz de Caetano, durante o filme.
E mais Caetano e São Paulo no filme em:
Pra onde ela foi? A cidade que eu tinha e tudo que era meu.
Eu tinha o chão, eu tinha o céu e agora ninguém sabe o que aconteceu.
Ainda queria dizer tanta coisa, mas não deu...
Pra onde você foi?
E eu, vou pra onde?
Aonde a gente se esconde do que aconteceu?”
_Tá todo mundo conectado, mesmo quando a gente acha que não pertence. Todo mundo precisa de todo mundo. – diz a astróloga/taróloga ou algo assim em seu programa de rádio, vivida por Bruna Lombardi.
Ela vive de ajudar as pessoas, quando, muitas vezes, quem precisa de ajuda é ela.
E não digo que todos somos pobres coitados carentes, fadados à irremediável frustração e tristeza.
Mas, é bonito saber que já que a vida nos traz desafios, mudanças bruscas, perdas e afins... A gente pode se ajudar. Se ajudar a tornar as coisas mais leves. Se ajudar numa caminhada que pode ser muito prazerosa.
Em uma pesquisa recente, onde alguns trechos foram publicados na Isto é, (ou Veja... Não lembro...) Foram entrevistadas pessoas do mundo todo, desde um marceneiro da Lituânia a um executivo de Londres, onde deveriam responder à seguinte pergunta: Qual o sentido da vida?
Um senhor, Russo, respondeu que o sentido da vida era aprender a amar a família. Porque essa era uma maneira que Deus encontrou de nos “treinar” de nos educar a se relacionar com o mundo, e a amar a todos consequentemente.
É o amor, não a vida, o contrário da morte.” – escreveu Roberto Freire, na margem de um jornal velho, ainda sofrendo e sangrando bastante depois de mais uma tortura no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
Porque é fácil falar de amor quando estamos amando, mas é bonito saber que alguém ainda dá a mesma importância num momento de... Terror. E aí eu vou mais longe, mas continuo no DOPS. Quem teve o privilégio de ir ao Memorial da Resistência (As antigas celas do DOPS deram lugar ao mesmo, que busca resgatar e preservar a memória da resistência e repressão política do período da Ditadura) pode ouvir em uma das celas (que tentaram deixar o mais fiel possível à época) a narração de vários ex-prisioneiros políticos narrando momentos duros e tristes. Mas o mais comovente pra mim foi ver a alegria com que eles contavam como tentavam celebrar os natais e cantar bem alto para que suas companheiras ao lado pudessem ouvir e se alegrar também. Ou quando numa das passagens finais você ouve a voz de um senhor muito simpático dizendo que no fundo, eles só lutaram tanto, só passaram por tudo aquilo porque eles sabiam o que era ser feliz ou ter momentos de alegria. E simplesmente, queriam que todos também tivessem esse direito.
Se perdem gestos, cartas de amor, vozes, parentes, romances...
Se perdem objetos, se perdem histórias...
Se perde o que fomos e o que queríamos ser...
Mas não existe perda, existe movimento.” (trecho do filme)
Em uma das mais belas passagens do filme, o personagem de Juca de Oliveira, um homem apaixonado pela vida e pelas mulheres, faz um último pedido desesperado ao enfermeiro:

_Eu quero que você me traga uma mulher... (diante da resistência do enfermeiro) Eu só quero ver ela nua! Só olhar!
É um pedido tão apaixonado e puro, que o enfermeiro cede. Uma enfermeira se sensibiliza e se oferece para ajudar, diante da recusa e do desprezo de outra.
Enquanto ela se despe, ele também se sente, visto reconhecido. É uma cena emocionante. Tanto que eu nem fiz questão de lembrar o nome do personagem que ele interpreta, mas que eu prefiro chamar de personagem “Choram as rosas”, mas eu não vou contar a razão para que possam ver no filme.
E para que tenham mais vontade de ver o filme, termino com meu top 10 de 5 frases interessantes que você ouve ao longo do mesmo:

Só de ver aqueles 2 juntos me deu uma agonia...Parece que todo mundo tá feliz menos eu.”
Eu não sei que religião é essa que a gente nem pode dar”
Eu vou morrer de noite? Eu não quero morrer de noite!”
Mesmo que o Universo não queira, mesmo que os astros não queiram... Acho que quando a gente quer de verdade a gente pode mudar algumas coisas, você não acha?”
Você não é amado porque você é bom, você é bom porque é amado.”

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tudo pode dar certo ou...Porque ser pessimista


"No final das contas, as aspirações românticas da nossa juventude se reduzem ao que pode dar certo”.
Será que os nossos desejos são realmente nossos desejos ou são aquilo que deu pra desejar ao longo da vida?
Com o tempo, vamos abrindo mão de algumas coisas, e os quereres vão mudando de lugar.
Será que não se desejar o que se desejava antes é necessariamente desistir, ou talvez seja simplesmente se adaptar? Não sei se na verdade a gente vai “barganhando” com a vida... Abrindo mão de algumas coisas pra ter outras e assim vai.
Por que mesmo quando a gente realiza um sonho tão acalentado... Às vezes nem assim “dá certo”. Porque afinal:
O que é dar certo?                           
Tudo é tão assustadoramente passageiro e efêmero, que qualquer coisa que traga transformações positivas já deu certo. Será que “dar certo” é só alcançar o resultado almejado?
Alguém sabe o que é “dar certo” na vida?
Acho que a gente nunca respira aliviado, do tipo “Ufa, agora está TUDO certo”.
Sobre o filme Tudo pode dar certo cujo título original seria Whatever Works, vale ressaltar que o ator que interpreta o personagem principal do filme, Boris (um cara pessimista e hipocondríaco) é Larry David, que é co-criador e um dos principais roteiristas da série Seinfeld. Tanto ele quanto Woody Allen, o diretor do filme, são bem chegados num pessimismo e humor negro.
Em uma das primeiras cenas do filme, Boris desce as escadas correndo, depois de um grito de pavor que acorda sua esposa, e repete sem parar:
Boris: Eu vou morrer! Eu vou morrer! Eu vou morrer!
Esposa (cujo nome eu não lembro): O que você tem, o que você está sentindo?
Boris: (responde irritado) Não hoje! Mas eu vou morrer um dia!
Parece que a gente vive em função do medo: medo da morte, da solidão, do ridículo. No ridículo acredito que entra também essa questão do “não dar certo”, do fracasso. Afinal, o fracasso é muito a forma como a gente não quer ser visto pelos outros, tem muito mais a ver com o externo.
O tempo é um dos meus medos: Como lidar com o tempo, sabendo que o que o tempo nos ensina, muitas vezes, só conseguimos aplicar num tempo que já vai ser outro?
Isso sem falar nas relações, que mudam muito porque a gente muda. Aquele amigo de infância, hoje, pode até ser legal sair pra tomar um sorvete com ele, mas não é a mesma coisa, nunca vai ser. Nunca vai dar pra resgatar toda cumplicidade e prazer do que já foi vivido e hoje é passado. E os relacionamentos amorosos então? Um dia a gente se pergunta se aquilo existiu realmente ou foi só na nossa cabeça que foi tão bom, ou olha pra trás e fala: “O que foi que eu vi nessa pessoa?”
“De outro, serás de outro como antes de meus beijos,
como é curto o amor e como é longo o esquecimento...”
Mas claro que há beleza no encontro e o mais legal é isso, mesmo sabendo que vai acabar, ou que pode acabar, vale a pena. O resultado do encontro é o que fica.
No filme, Boris é um cara tão inteligente e esclarecido, que não tem mais vontade de se relacionar porque não consegue mais acreditar.
Será que a ignorância realmente é uma dádiva?
Ainda penso muito nisso, mas custo a concordar.  Sempre achei que a vida é como as fases do videogame: A gente passa uma fase e fica mais forte (mais conhecimento) e mais preparado, para dificuldades que também serão maiores. Só que as recompensas também aumentam.
Boris, que em vários momentos do filme quebra a quarta parede e conversa com a plateia, diz que este não é um filme feito para as pessoas se sentirem bem. E sinceramente, e apesar de tudo que eu escrevi não ser muito animador, eu discordo. É um filme muito leve, divertido e gostoso de assistir, com diálogos incríveis que claro, nos fazem pensar sobre essas questões, mas de uma forma que nos estimula a viver, e não ceder a essa loucura.

BORIS: [Para o público] Odeio passagens de ano. Todo mundo tenta se divertir desesperadamente, celebrar de uma maneira patética qualquer. Celebrar o quê? Estar mais perto da cova? É por isso que nunca é demais dizer: aproveitem cada pedaço de amor que conseguirem ter ou dar, cada alegria, cada partícula temporária de encanto, o que quer que seja. E não se iludam: boa parte da nossa existência é sorte. Qual era a probabilidade daquele espermatozoide do seu pai, entre bilhões, encontrar o óvulo onde nasceram? Não pensem nisso – iam ter um ataque de pânico.
Eu sempre pensei que eu prefiro a verdade das coisas, mesmo que ela doa. Qualquer verdade me fará melhor do que qualquer mentira melodramática, e como me disseram uma vez, a desilusão é uma coisa boa, afinal: Quem é que quer viver de ilusão? Por isso, vamos à realidade das coisas com minhas razões para ser pessimista:
_Você vai morrer
_As pessoas mais legais que já passaram pelo mundo também já morreram, como: Gandhi, John Lenon e MUSSUM! (suspiro)
_Papai Noel não existe, coelho da páscoa não existe e minha última esperança que era a fada-do-dente, me fez arrancar metade dos dentes da boca e me deixou sem um tostão por que... Adivinhem: tam-bém não e-xis-te!
_Xuxa não vinha de uma nave de verdade, ela só tava saindo do camarim;
E o pior de todos, respirem fundo, é:
_COCA-COLA FAZ MAL!

Bom, apesar de tudo dá uma vontade danada de viver assistindo esse filme. Porque viver implica nisso. Em tudo isso.

domingo, 1 de maio de 2011

Os homens que encaravam cabras ou... 21 passos para ser um guerreiro Jedi

Uma história com um pé na realidade e outra no surreal.
Existe uma divisão do exército dos EUA treinada para utilizar poderes psíquicos em combate.
Embora este filme se utilize de fatos verídicos que beiram o absurdo, inclusive ridicularizando a guerra, me pergunto: Qual é o jeito de lutar pelo que a gente acredita?
Uma vez um amigo me disse que o problema das manifestações e revoluções é que as pessoas lutam sempre contra algo, quando o que deveria ser feito é lutar a favor de algo.
Às vezes tudo o que a gente precisa fazer é brigar pelo que a gente quer, às vezes não tem outro jeito, mas... É possível fazer isso pacificamente?
Por que é muito “fácil” resolver as coisas quando a gente está tão puto que não se importa mais com as consequências, então a gente explode, fala, briga. Espera a última gota pra estourar. Como é fazer o que a gente acredita na calma? Na razão, com a mesma firmeza, mas sem o descontrole? Afinal, precisa de muita força pra ser leve.
É que essas emoções da “putice”, como a raiva, irritação... Deixam a gente seguro demais. E quando a gente está seguro demais a gente acha que tem que fazer, dizer, existir.
Em qualquer uma das minhas divagações eu vou limitar o filme, que traz questões muito maiores, como por exemplo, todo nosso potencial adormecido e latente.
 George Clooney (com um bigodinho cafajeste) entre outras coisas tem o poder de matar cabras com o olhar. Engraçado, pra não dizer bizarro... Mas é só um dos exemplos que o filme traz de maneira irônica. Você não sabe se ri ou leva a sério e até o último momento sua crença é posta a prova.
É uma tragicomédia, acho. E talvez o mais interessante desse filme seja exatamente isso: Você nunca sabe se estão falando sério.
Com bastante ironia você é levado a pensar sobre coisas sérias, sobre coisas mágicas. Repleto de flashbacks engraçadíssimos ambientados nos anos 80. Um dos filmes mais surpreendentes que eu já vi, com Jeff Bridges incrível e com cabelo até a bunda. (detalhe totalmente desnecessário, mas é que ele realmente ficou muito bem).
Sobre deixar a mediocridade, e com isso não falo que temos que salvar o mundo e fazer uma revolução... E sim olhar pra dentro, mas tão pra dentro a ponto de nos assustarmos com nossa grandeza.
Sobre tentar olhar pra gente mesmo como algo maior... Como heróis em potencial? Talvez.
E isso me faz lembrar dos 21 passos para ser um guerreiro Jedi (que eu acabei de inventar me baseando no filme, nos samurais, guerreiros medievais e por que não no palhaço)
1-      Defender os fracos
2-      Jamais retroceder ante um inimigo
3-      Preservação da honra
4-      Manter sua palavra a qualquer custo
5-      Lealdade
6-      Se libertar de materialismos ou apegos emocionais
7-      Ser bonitão (pois é, no filme é o que parece, tanto que o Kevin Spacey nunca conseguiu, enfim, essa regra é mais maleável)
8-      Prontidão, brilho no olhar.
9-      Generosidade, sinceridade
10-   Nunca pedir aplausos
11-   Saber sair com dignidade

Bom, estou tentando descobrir os outros, mas sei que tem o negócio das cabras e algo como saber atravessar paredes, ( ainda estou testando ambos). De qualquer forma, aceito sugestões.
Se todo filme tem uma mensagem, pra mim essa é bem nítida: “Ser tudo aquilo que podemos ser”.
E pra finalizar e sair com dignidade...
Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.