"No final das contas, as aspirações românticas da nossa juventude se reduzem ao que pode dar certo”.
Será que os nossos desejos são realmente nossos desejos ou são aquilo que deu pra desejar ao longo da vida?
Com o tempo, vamos abrindo mão de algumas coisas, e os quereres vão mudando de lugar.
Será que não se desejar o que se desejava antes é necessariamente desistir, ou talvez seja simplesmente se adaptar? Não sei se na verdade a gente vai “barganhando” com a vida... Abrindo mão de algumas coisas pra ter outras e assim vai.
Por que mesmo quando a gente realiza um sonho tão acalentado... Às vezes nem assim “dá certo”. Porque afinal:
O que é dar certo?
Tudo é tão assustadoramente passageiro e efêmero, que qualquer coisa que traga transformações positivas já deu certo. Será que “dar certo” é só alcançar o resultado almejado?
Alguém sabe o que é “dar certo” na vida?
Acho que a gente nunca respira aliviado, do tipo “Ufa, agora está TUDO certo”.
Sobre o filme Tudo pode dar certo cujo título original seria Whatever Works, vale ressaltar que o ator que interpreta o personagem principal do filme, Boris (um cara pessimista e hipocondríaco) é Larry David, que é co-criador e um dos principais roteiristas da série Seinfeld. Tanto ele quanto Woody Allen, o diretor do filme, são bem chegados num pessimismo e humor negro.
Em uma das primeiras cenas do filme, Boris desce as escadas correndo, depois de um grito de pavor que acorda sua esposa, e repete sem parar:
Boris: Eu vou morrer! Eu vou morrer! Eu vou morrer!
Esposa (cujo nome eu não lembro): O que você tem, o que você está sentindo?
Boris: (responde irritado) Não hoje! Mas eu vou morrer um dia!
Parece que a gente vive em função do medo: medo da morte, da solidão, do ridículo. No ridículo acredito que entra também essa questão do “não dar certo”, do fracasso. Afinal, o fracasso é muito a forma como a gente não quer ser visto pelos outros, tem muito mais a ver com o externo.
O tempo é um dos meus medos: Como lidar com o tempo, sabendo que o que o tempo nos ensina, muitas vezes, só conseguimos aplicar num tempo que já vai ser outro?
Isso sem falar nas relações, que mudam muito porque a gente muda. Aquele amigo de infância, hoje, pode até ser legal sair pra tomar um sorvete com ele, mas não é a mesma coisa, nunca vai ser. Nunca vai dar pra resgatar toda cumplicidade e prazer do que já foi vivido e hoje é passado. E os relacionamentos amorosos então? Um dia a gente se pergunta se aquilo existiu realmente ou foi só na nossa cabeça que foi tão bom, ou olha pra trás e fala: “O que foi que eu vi nessa pessoa?”
“De outro, serás de outro como antes de meus beijos,
como é curto o amor e como é longo o esquecimento...”
Mas claro que há beleza no encontro e o mais legal é isso, mesmo sabendo que vai acabar, ou que pode acabar, vale a pena. O resultado do encontro é o que fica.
No filme, Boris é um cara tão inteligente e esclarecido, que não tem mais vontade de se relacionar porque não consegue mais acreditar.
Será que a ignorância realmente é uma dádiva?
Ainda penso muito nisso, mas custo a concordar. Sempre achei que a vida é como as fases do videogame: A gente passa uma fase e fica mais forte (mais conhecimento) e mais preparado, para dificuldades que também serão maiores. Só que as recompensas também aumentam.
Boris, que em vários momentos do filme quebra a quarta parede e conversa com a plateia, diz que este não é um filme feito para as pessoas se sentirem bem. E sinceramente, e apesar de tudo que eu escrevi não ser muito animador, eu discordo. É um filme muito leve, divertido e gostoso de assistir, com diálogos incríveis que claro, nos fazem pensar sobre essas questões, mas de uma forma que nos estimula a viver, e não ceder a essa loucura.
BORIS: [Para o público] Odeio passagens de ano. Todo mundo tenta se divertir desesperadamente, celebrar de uma maneira patética qualquer. Celebrar o quê? Estar mais perto da cova? É por isso que nunca é demais dizer: aproveitem cada pedaço de amor que conseguirem ter ou dar, cada alegria, cada partícula temporária de encanto, o que quer que seja. E não se iludam: boa parte da nossa existência é sorte. Qual era a probabilidade daquele espermatozoide do seu pai, entre bilhões, encontrar o óvulo onde nasceram? Não pensem nisso – iam ter um ataque de pânico.
Eu sempre pensei que eu prefiro a verdade das coisas, mesmo que ela doa. Qualquer verdade me fará melhor do que qualquer mentira melodramática, e como me disseram uma vez, a desilusão é uma coisa boa, afinal: Quem é que quer viver de ilusão? Por isso, vamos à realidade das coisas com minhas razões para ser pessimista:
_Você vai morrer
_As pessoas mais legais que já passaram pelo mundo também já morreram, como: Gandhi, John Lenon e MUSSUM! (suspiro)
_Papai Noel não existe, coelho da páscoa não existe e minha última esperança que era a fada-do-dente, me fez arrancar metade dos dentes da boca e me deixou sem um tostão por que... Adivinhem: tam-bém não e-xis-te!
_Xuxa não vinha de uma nave de verdade, ela só tava saindo do camarim;
E o pior de todos, respirem fundo, é:
_COCA-COLA FAZ MAL!
Bom, apesar de tudo dá uma vontade danada de viver assistindo esse filme. Porque viver implica nisso. Em tudo isso.

Gostei do texto, você passar por vários lugares sem se perder entre o começo e o fim. Dá vontade de ver o filme. =) É difícil saber o que é sorte ou azar.. como dizem o que parecer ser sorte pode se tornar azar e o que parece ser azar pode se tornar sorte.
ResponderExcluirObrigada Moacir! Fico feliz com seu comentário.
ResponderExcluirAceito sugestões suas sobre ser pessimista, que eu me lembre vc era bom nisso hohoho