sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bem me quer mal me quer ou... E com meu corpo em chamas fiz amor com o homem do gás


“Absurda e mexicana e encerrada em si e independente do que a despertara: A paixão”  Caio F. Abreu

A realidade que eu vejo e acredito foi construída de tal forma que é diferente da “realidade” de qualquer outro. Quando digo “realidade” me refiro à nossa visão de mundo.
No fundo, estamos sempre escolhendo no que acreditar.

“Ninguém a outro ama, se não que ama
"O que de si há nele" Ricardo reis

E na paixão, cheios de expectativas, acreditamos que o outro é: 1- Tudo o que somos 2- Tudo o que fomos 3- Tudo o que queríamos ser.
Ou, um pouco de cada. E, talvez, na forma como lidamos com a realidade que é imposta a cada encontro (por mais perfeito que pareça) surja, nasça, ou se construa o amor...
 Ou não.
Mas, independente do objeto da nossa paixão muitas vezes o mais interessante é se apaixonar.
O outro é só um pretexto. Por isso a paixão age em nós como um vício e às vezes escolhemos quase que conscientemente alguém apto para ser alvo de nossa paixão.
Resumindo: O outro acaba sendo um coitado qualquer que é obrigado a atingir nossas expectativas inatingíveis.
A gente se frustra ao perceber que o outro simplesmente não é o que queríamos (inventamos) e bota a culpa no outro e não em nós mesmos.
Tem uma cena ótima do terça Insana, onde a personagem da esposa frustrada conta que a paixão é como aquelas imagens gigantes de papelão, onde tem um buraco no lugar do rosto da pessoa e você substitui pelo seu pra tirar a foto.
Uma imagem de papelão do Ronald Mcdonald por exemplo.
O objeto da sua paixão é um coitado qualquer que se encaixa nas suas expectativas e desejos (corpo do Ronald Mcdonald) você vai lá, segura no cabelo do coitado e “táca” a cara dele no buraco. E depois ainda acha ruim se não encaixa.
Ok... Tudo bem, a paixão também pode ser algo muito bonito que acontece do nada e transforma nossas vidas. Mesmo que às vezes dure um dia, ou uma noite. Afinal, qualquer coisa que nos traga mais vida é sempre boa.
Mas, na falta de uma relação, a gente encontra pretextos para sentir palpitação, desejo, estímulo para existir de uma forma onde a gente só existe ou “acontece” na relação amorosa.
Coisa que a gente faz com maestria na infância ou adolescência.

Quando o rapaz da padaria te dá um oi e você tem certeza (ou finge ter) de que ele nutre uma paixão secreta por você, e isso te basta para ir para escola mais feliz.
O filme, de 2002 (estrelado por Amelie Poulain, digo, Audrey Tatou): À la folie... Pas du tout
 Fala, na verdade, de algo muito mais sério: A erotomania, também conhecida como síndrome de Clérambault.
A erotomania está no contexto de esquizofrenia,e consiste na convicção delirante de uma pessoa que acredita que outra pessoa está secretamente apaixonada por ela.
Quem sofre da síndrome normalmente acredita que o objeto de sua paixão se comunica com ela sutilmente atravéz de gestos, postura, enfim, uma linguagem beeem subjetiva...
Achei uma definição muito boa onde diz que a erotomania é o delírio de ser amado, ao contrário do ciúme que seria talvez o delírio de não ser amado.

No filme, essa questão é muito bem retratada.
A "Amelie" é sempre encantadora, e o filme surpreende muito utilizando o recurso de flashbacks para que possamos ver as diferentes visões de cada "realidade".
 Trazendo assim, uma reviravolta na nossa própria visão da história.

A visão de cada personagem a respeito de uma mesma situação, de um mesmo gesto, é totalmente oposta. Pra não dizer assustadoramente oposta.
Qual é a verdadeira? Se não acreditamos no que uma pessoa sente o sentir dela é menos verdadeiro?
Nesse caso, a realidade então seria o consenso da maioria?
Um ótimo filme, e vale ressaltar que apesar dele surpreender o tempo todo, ainda sobra um pouquinho pra você ficar muito “passado” com o momento final.
Sendo assim, acredito que na verdade todos inventam.
 Cada vez mais conscientemente.
Não tenho sonhos eróticos com o cara do comercial de desodorante ou acredito que quando um bonitão fala na tv: “Devassa” Ele esteja falando pra mim... Mas, acredito que no nosso cotidiano a gente tende a incrementar a rotina inventando “paixõezinhas” com pessoas cujo nome daqui a algum tempo nem vai lembrar. Com pessoas que a gente sabe que no fundo não tem nada a ver e não vai dar em nada. Como por exemplo, o cara do metrô (que você tem certeza que ele está saindo mais cedo do trabalho só pra pegar metrô com você), a recepcionista do dentista (Que pediu seu telefone pra te ligar e não pra ter no cadastro), aquela pessoa que te presta algum serviço mas, vocês só se falam por telefone, ela tem uma voz incrível, mas você sabe que o legal da história é justamente ficar só nisso e nunca descobrir se ela tem 70 anos e é casada.
Claro que, cada caso é um caso e tudo tem que ter uma medida.
Se inventamos “paixõezinhas” por falta do que fazer, porque é natural e orgânico, ou por que no fundo também temos medo de lidar com a realidade e levar uma bota já é outra questão.
Segue abaixo minha lista (e sugestão) de 5 musicas preferidas no quesito bregas apaixonadas.
Caminhoneiro – Roberto Carlos
Meu dengo – Roberta Miranda
I just call to say I love you – Stevie Wonder
Eternal flame – The bangles
Caça e caçador – Fábio Junior





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