Imagine uma avalanche.
Aquela imagem que, de tão grandiosa, por mais que aconteça rápido, parece sempre ser em câmera lenta.
E mesmo quando tem pessoas ao redor (numa imagem de filme por exemplo) mesmo sabendo que elas estão todas ferradas...Não tem como não olhar para aquela imagem e, ainda assim, não achar bonito.
É trágico e belo.
A destruição é sempre lenta, como uma pessoa que só morre depois de ser muito torturada.
Porque pra destruição acontecer de verdade, você tem que negar ela várias vezes, pra que quando ela venha por completo ela já tenha acabado com tudo que estava pelo caminho.
Com coisas que a gente nem imaginava existir.
_Mas eu não quero ir!
_Mas as coisas acabam.
Em “A deriva”, os sempre charmosos Debora Bloch e Vincent Cassel vivem um casal em crise. Crise que demora a se construir, a se estabelecer, de um jeito que-como todas as crises e todos os finais- você mal percebe e por vezes duvida até o último momento.
Mesmo que o que a gente ache ser o “último momento” se repita tantas e tantas vezes.
Mas a destruição do que era uma relação, uma família, um amor... É bonita.
Porque nela se constroem novas pessoas.
Porque a infidelidade pode ser só uma forma de reconstruir sua autoestima, porque perder a virgindade pode ser uma decisão brusca de crescer junto com a vida.
A água está presente no filme como um elemento de transformação, de purificação.
Desde as brincadeiras com os amigos na praia, o banho pra curar a mãe doente, ou o marido que tendo tomado uma decisão finalmente resolve lavar a louça, e a partir disso volta a ter mais atitude, parece que o fluxo que corre da torneira abre também caminhos internos nele, que até volta a escrever – já que seu personagem é um escritor em crise.
“Não há nada mais destrutivo que insistir sem fé nenhuma” Caio F. Abreu
O fim é mais que uma destruição. É uma libertação.
Libertação de um relacionamento que não faz mais sentido- e não precisa nem ser amoroso, de um modo de vida, ou só da visão que tínhamos de alguém, projetada e construída por nossas próprias carências.
A gente até deseja que as coisas mudem, mas quando mudam, a gente resiste.
Precisa de coragem pra evoluir, e se a gente resiste, a vida leva à gente a força.
O casal do filme resiste tanto, que em alguns momentos pensei que a esposa vivida por Débora Bloch tinha morrido. Ou se matado, de dor, de sofrimento, de tanto beber.
_Um dia você já disse que me amava.
_Faz tempo.
Ás vezes permitimos que uma relação destrua o que há de melhor em nós por falta de coragem pra ir embora. Porque a pessoa mais íntima se torna uma estranha, porque simplesmente a gente muda, e muda de jeitos diferentes. Ou porque percebe também, que no fundo, nunca foi igual.
“...porque é certo que as pessoas vão crescendo e se modificando, mas estando próximas, uma vai adequando seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e a modificação da outra. Mas estando distantes, um cresce e se modifica num sentido e outra noutro, completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra.” Caio F. Abreu
Quando o casal do filme discute, quando o negócio fica feio mesmo, eles falam em francês (nacionalidade do ator e do personagem também). Imagino que a gente realmente saia um pouco da gente pra entrar em outra realidade, outro universo quando o clima pesa, mas, diria que tem coisa que a gente tem que resolver em “outra língua” mesmo. Com o invisível, só com a gente mesmo... E por mais que seja importante não deixar nada pendente, ás vezes é melhor usar a linguagem do não - dito. Tem coisas que se resolvem sozinhas, de outras formas. Tem coisa que é e pronto e não adiante se explicar e não adianta pedir explicação.
Por todos os nossos fins... Que incluem novos inícios.
Enterremos nossos defuntos!
“Meus belos olhos separados do mundo
Onde estão os mortos estou mais vivo
Eu queria poder repetir o mundo
Não ser apenas sombra de uma sombra
Meus belos olhos tornem-me visível
Eu não quero terminar em mim.” Paul Eluard.

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