“Às vezes eu fico meio assim, mas depois passa.”
Quando passo pelo centro de São Paulo e vejo mulheres bonitas, algumas muito bem vestidas sentadas num banquinho velho de madeira ao lado de alguma cartomante ou mãe de santo, penso que encontro todos os dias com essas pessoas, nas ruas, no metrô... E nunca iria imaginar que assim como eu, elas também sofrem. Às vezes muito mais.
Me surpreendo nessas horas ao me deparar com o óbvio:
Todo mundo é sozinho. E todo mundo quer respostas.
Precisamos de sentido.
Precisamos de consolo.
“Quando não temos religião, inventamos uma própria, qualquer coisa que signifique algo pra gente.” Adélia Prado
E de novo, Adélia: “Eu descanso naquilo que é maior que eu”
No filme, todos estão em busca de ajuda, de consolo, de significado.
Unidos em sua solidão, de um jeito harmonioso, bonito, acolhidos nesse cinza de São Paulo.
E ao ver o filme, fiquei feliz ao perceber que eu moro num cenário.
Porque a cidade ecoa tão alto nas histórias, que às vezes acho que eles (personagens) são cenário ou, pano de fundo para a própria cidade.
“Nessa cidade tão cheia de gente, ninguém sabe o que você sente, ninguém quer saber de ninguém” – na voz de Caetano, durante o filme.
E mais Caetano e São Paulo no filme em:
“Pra onde ela foi? A cidade que eu tinha e tudo que era meu.
Eu tinha o chão, eu tinha o céu e agora ninguém sabe o que aconteceu.
Ainda queria dizer tanta coisa, mas não deu...
Pra onde você foi?
E eu, vou pra onde?
Aonde a gente se esconde do que aconteceu?”
_Tá todo mundo conectado, mesmo quando a gente acha que não pertence. Todo mundo precisa de todo mundo. – diz a astróloga/taróloga ou algo assim em seu programa de rádio, vivida por Bruna Lombardi.
Ela vive de ajudar as pessoas, quando, muitas vezes, quem precisa de ajuda é ela.
E não digo que todos somos pobres coitados carentes, fadados à irremediável frustração e tristeza.
Mas, é bonito saber que já que a vida nos traz desafios, mudanças bruscas, perdas e afins... A gente pode se ajudar. Se ajudar a tornar as coisas mais leves. Se ajudar numa caminhada que pode ser muito prazerosa.
Em uma pesquisa recente, onde alguns trechos foram publicados na Isto é, (ou Veja... Não lembro...) Foram entrevistadas pessoas do mundo todo, desde um marceneiro da Lituânia a um executivo de Londres, onde deveriam responder à seguinte pergunta: Qual o sentido da vida?
Um senhor, Russo, respondeu que o sentido da vida era aprender a amar a família. Porque essa era uma maneira que Deus encontrou de nos “treinar” de nos educar a se relacionar com o mundo, e a amar a todos consequentemente.
“É o amor, não a vida, o contrário da morte.” – escreveu Roberto Freire, na margem de um jornal velho, ainda sofrendo e sangrando bastante depois de mais uma tortura no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
Porque é fácil falar de amor quando estamos amando, mas é bonito saber que alguém ainda dá a mesma importância num momento de... Terror. E aí eu vou mais longe, mas continuo no DOPS. Quem teve o privilégio de ir ao Memorial da Resistência (As antigas celas do DOPS deram lugar ao mesmo, que busca resgatar e preservar a memória da resistência e repressão política do período da Ditadura) pode ouvir em uma das celas (que tentaram deixar o mais fiel possível à época) a narração de vários ex-prisioneiros políticos narrando momentos duros e tristes. Mas o mais comovente pra mim foi ver a alegria com que eles contavam como tentavam celebrar os natais e cantar bem alto para que suas companheiras ao lado pudessem ouvir e se alegrar também. Ou quando numa das passagens finais você ouve a voz de um senhor muito simpático dizendo que no fundo, eles só lutaram tanto, só passaram por tudo aquilo porque eles sabiam o que era ser feliz ou ter momentos de alegria. E simplesmente, queriam que todos também tivessem esse direito.
“Se perdem gestos, cartas de amor, vozes, parentes, romances...
Se perdem objetos, se perdem histórias...
Se perde o que fomos e o que queríamos ser...
Mas não existe perda, existe movimento.” (trecho do filme)
Em uma das mais belas passagens do filme, o personagem de Juca de Oliveira, um homem apaixonado pela vida e pelas mulheres, faz um último pedido desesperado ao enfermeiro:
_Eu quero que você me traga uma mulher... (diante da resistência do enfermeiro) Eu só quero ver ela nua! Só olhar!
É um pedido tão apaixonado e puro, que o enfermeiro cede. Uma enfermeira se sensibiliza e se oferece para ajudar, diante da recusa e do desprezo de outra.
Enquanto ela se despe, ele também se sente, visto reconhecido. É uma cena emocionante. Tanto que eu nem fiz questão de lembrar o nome do personagem que ele interpreta, mas que eu prefiro chamar de personagem “Choram as rosas”, mas eu não vou contar a razão para que possam ver no filme.
E para que tenham mais vontade de ver o filme, termino com meu top 10 de 5 frases interessantes que você ouve ao longo do mesmo:
“Só de ver aqueles 2 juntos me deu uma agonia...Parece que todo mundo tá feliz menos eu.”
“Eu não sei que religião é essa que a gente nem pode dar”
“Eu vou morrer de noite? Eu não quero morrer de noite!”
“Mesmo que o Universo não queira, mesmo que os astros não queiram... Acho que quando a gente quer de verdade a gente pode mudar algumas coisas, você não acha?”
“Você não é amado porque você é bom, você é bom porque é amado.”

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