Ser dramático é cultural?
Sei que a culpa é, bastante. E hoje, e cada vez mais existem coisas novas para serem sentidas. Ou coisas velhas com novos nomes... Hoje as pessoas são bipolares, a depressão é uma doença, tratada com medicamentos e as pessoas sofrem bulling.
A solidão é uma espécie de “mal do século”.
Que eu saiba a solidão é bem velha, mas realmente, devo concordar que as pessoas sofrem cada vez mais com isso. Talvez em função do estilo de vida que temos atualmente, cada vez mais as pessoas se encerram em si mesmas, pra se protegerem, por medo, por hábito, não sei. Sei que li um artigo muito interessante a respeito na Folha de SP e segundo um teste do próprio jornal eu sofro de um “alto índice de solidão”. Tudo porque saio muito sozinha, gosto de ficar em casa e tenho poucos amigos.
Então fiquei me perguntando o que é realmente a solidão.
Se é estar sozinho ou se sentir sozinho. No Aurélio solidão é o estado de quem se acha ou vive só. Mas não deveria ser: O estado de quem se acha e vive só e acha isso ruim? Porque eu me acho só, mas quase sempre acho isso positivo. O problema não é nem com o Aurélio, é que a palavra “só” soa sempre tão pesada. E existem solidões tão construtivas...
E nem estou me defendendo pra dizer que não sou uma pessoa solitária, talvez eu só esteja querendo dizer que é muito relativa essa questão do convívio, da presença física de alguém. A coisa mais normal do mundo é estar acompanhado e se sentir só. Não sei dizer quantas vezes alguém partiu da minha vida levando minha solidão embora, junto com ela.
Sobre ser dramático... É aí que quero chegar. Conheço pessoas que conseguem ser tão práticas, acho que é um sinal de maturidade, personalidade, não sei. Talvez fazer drama tenha a ver com carência também, uma forma de chamar atenção, de pedir atenção.
Mas... Quem já viu super Nani? Repito: Quem já viu super Nani? Eu acho legal, e quem já viu percebe que somos educados pra sermos dramáticos! Desde alguns meses de idade já aprendemos como chamar atenção pra ter o que desejamos. Quando crescemos, mesmo que de forma inconsciente fazemos a mesma coisa, às vezes até com direito a choro e bico.
E além dessa questão da carência, acho que é cultural porque todo mundo quer ser um mártir! Sim, essa é mais uma das belas heranças que a igreja nos deixou.
A gente gosta de sofrer, talvez se sinta mais importante assim.
E agora falo totalmente por mim, mas às vezes acho que eu faço drama por ver filmes demais. Por me sentir, ou querer ser uma personagem de uma grande história. Quantas vezes não imaginei até trilha sonora para alguma coisa forte que me aconteceu? E quem, não parou de chorar, pelo menos por uns 2 segundos, completamente esquecido de sua dor, ao se deparar com um espelho ou reflexo qualquer? Ou quem nunca chorou horrores e ainda com lágrimas nos olhos por um momento não se perguntou: Porque eu tava chorando mesmo?
“Eu ajo, eu penso, eu falo como se eu pertencesse a um romance”.
E faço minhas as palavras de Zeca, personagem do filme vivido por Caio Blat. Um escritor que não consegue escrever. Às vezes parece que ele sofre só pra ter o que sentir ou só pra se sentir parte de algo.
“Existem pessoas que simplesmente não conseguem ser felizes.”
“Não gosto de chuva, não gosto de sol, não gosto de porra nenhuma”.
“Sou do tipo que se suicida. Mas não dá pra se matar com 30 anos.”
Tem gente que sofre mesmo. Tem muita coisa pra doer na vida, mas... Não sempre. Ou talvez, mesmo que a dor sempre paire de alguma forma talvez exista uma forma de encarar melhor a dor, para que ela cumpra sua função, mas não se instale.
Zeca é daquelas pessoas que quer ser mártir, mas não tem talento para isso. Acho que poucos têm. Ele quer ser sofredor, mas é tão deslocado que muitos de seus dramas soam cômicos.
_Você foi o primeiro homem que deu pra mim.
Essa fala é dita por uma mulher, em um dos momentos engraçados do filme, um dos momentos em que Zeca mete os pés pelas mãos por querer ser um herói romântico (como ele mesmo diz: perdido entre o era uma vez, e o nunca mais) e querer viver duas histórias de amor, ao mesmo tempo.
Muitas vezes colocamos a nossa cota de drama nas relações amorosas. Quando não precisamos, quando a relação não precisa de drama nenhum.
E sem drama tem graça?
Talvez. Talvez a gente consiga enxergar além de algumas fronteiras e descobrir novas cores.
_Vou dormir.
_E eu?
_Você tem que crescer agora.
Sobre o título... “Histórias de amor duram apenas 90 minutos”... Bem, eu não sei quanto duram e nem a medida do tempo ou do sentir. Mas... Discordo do trecho do filme que segue abaixo:
_Há mais paixão nas páginas de um livro do que entre qualquer par de coxas.
A realidade, seja lá o que isso for, pode nos surpreender. E acredito que devemos nos escorar nela, acolhe-la, para que aos pouquinhos possamos estar com os dois pés firmes, vivendo, sem fugas ou dramas.
E igualmente felizes, e verdadeiramente felizes.
Ou não, porque não dá pra estar sempre feliz. E tudo bem. Pelo menos estaremos vivendo de verdade.
Mais uma citação do filme, que me cabe agora:
_Toda vez que começo a escrever acabo falando de mim.
Me despeço agora, com dicas e sugestões para bons momentos de drama:
_Não perca a oportunidade de caminhar na chuva – chorando, é claro;
_ Ao terminar uma relação, ouça Love hurts, do Nazareth;
_Escreva uma carta de despedida- mesmo que não queira realmente se despedir.
_Fale: “Por que”? Em voz alta, olhando para o céu. É fundamental que seja em céu aberto, de preferência à noite.
_Vá para algum bar, pub ou boteco, sozinho. Peça uma bebida (não precisa ser alcoólica, só não vale se for daqueles coquetéis cheios de enfeites ou guarda-chuvinha) e beba quieto num canto. Suspire alto, é importante.
Boa sorte.

Hn... mto bom o texto! Gosto disso, e sobre como tratar a solidão em seu lado positivo, temos as palavras do Rilke, que me ensinaram muito, ou pelo menos eu quero acreditar que ensinaram! rsrsrs
ResponderExcluirParabéns pelo texto
Bjo!